junte-se à nós também




domingo, 20 de março de 2011

O que o mendigo disse..




Ele estava triste,
desmotivado. Sua mulher havia deixado de amá-lo. Levantou da cama e vestiu-se
naquela manhã de domingo. Sem nada para fazer, saiu de casa e andou sem rumo.
Até aquele dia, nunca tinha reparado como era penoso viver sem amor. Depois de
andar durante horas, sentou-se à sombra de uma árvore frondosa no banco de uma
praça, de cabeça baixa.Ao seu lado, sentou-se um homem que, pelo seu aspecto,
pareceu-lhe um mendigo. Quase se levantou para seguir o seu caminho, mas o
sorriso do homem o reteve. Aos poucos, se estabeleceu um diálogo e uma animada
conversa que se estendeu por horas. Finalmente, o marido se levantou do banco,
deixando dinheiro na mão do mendigo. Sua postura já estava diferente.
Agora, com passo enérgico, voltou para casa, tomou banho, fez a barba e se
vestiu com todo cuidado. Saiu sem dar explicações e sua mulher, que já não o
amava, se mostrou levemente curiosa com a sua nova atitude. Voltou à noite, bem
tarde. No dia seguinte, cumprimentou gentilmente sua mulher e foi trabalhar. Na
volta, vestiu um short, calçou tênis e fez uma longa caminhada noturna. Dormiu
com excelente disposição. O dia seguinte foi igual, talvez melhor. Sua mulher,
que não o amava, e seus filhos se surpreenderam. Parecia ter perdido a tristeza.
Ganhara uma força e uma elegância que a família nunca antes tinha notado.
Continuou a ser gentil com a mulher mas nunca mais lhe pediu desculpas ou
explicações, nem exigiu que fizesse amor com ele. Passaram-se semanas. A atitude
do marido continuava firme e a disposição otimista instalou-se de vez. A mulher
sentia-se cada vez mais intrigada com a mudança miraculosa do marido e teve mais
simpatia por suas novas atitudes, sábias e moderadas. Embora ela persistisse em
não amá-lo, ele melhorava seu desempenho como pessoa e como pai. Agora, os
amigos o procuravam. Era evidente que tinha se transformado num homem sábio.
Quanto a mim, sou um sujeito profundamente curioso, talvez por ser escritor
e fui à mesma praça onde estivera o marido a fim de procurar o mendigo. Pude
reconhecê-lo imediatamente. Sem vacilar, sentei-me a seu lado. Apresentei-me e
perguntei o que ele tinha dito para o marido. Sorrindo, o mendigo me
respondeu:
 
“Ah, lembro... Não dei grande conselho. Disse-lhe apenas que, com minha
experiência de mendigo, aprendi que nunca se deve pedir dinheiro e, pelas mesmas
razões, jamais se deve suplicar amor. Essas são duas coisa que sempre nos negam
quando as pedimos”.
 
E sorrindo, acrescentou:
 
“O dinheiro, a gente ganha; o amor se conquista”.

Não me pediu nada. Mesmo assim, agradecido, dei-lhe R$
100,00.

Alberto Goldin


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...